quinta-feira, 23 de agosto de 2012

o amor por Rosa vinha dos tempos de meninice e seu José fazia questão de pontuar que "era correspondido mas a timidez é que não deixava"...sentado na roda de amigos, contou e recontou que nos fins de semana, quando ia na boca do rio, chegava a se perfumar todo só pra passar na ladeira da casa de Rosa...A casa da moça, era na ponta de uma ladeira inclinada e a janela, acompanhada de cortinas floridas, dava pra rua onde seu Raimundo vendia suas alaranjadas acerolas..."ah, era aquela expectativa de vê-la da janela", suspirou seu José, apoiando as mãos no canto do rosto como quem perdeu-se em uma imensidão de lembranças cuidadosamente guardadas...

Depois de uns minutos, o rosto marcado pelo tempo começaram a ganhar um ar de meninice, como se em meio as lembranças houvesse encontrado algo que apontasse uma traquinagem ainda possível...foi quando ele revelou que na semana passada tinha visto Rosa com seus três filhos e reparado na porta de sua casa uma placa de "vende-se geladinho"! Atacado pela timidez que ele negava ainda ter, dobrou a esquina antes de ser possível o encontro...Seu José pontuou o tempo, as mudanças do corpo de rosa que, por esses tempos já deveria tá beirando os seus 54 anos..."mas a graça continuava a mesma" e depois de ter dito isso, voltou os olhos para as lembranças, despediu-se dos amigos e caminhou até em casa...

No dia seguinte, seu José acordou cedo, tomou um banho, perfumou-se todo e saiu. Chegou na ponta da ladeira e o vento que descia lhe refrescou a vida...Na porta da casa a placa, que mediava a coragem e a covardia que sentia simultaneamente...Seu José assobiou até ver sair da casa uma mulher...Os olhos de mel de Rosa marearam-se assustados e com as mãos cheias de acerolas alaranjadas, vendidas pelo filho de seu Raimundo, seu José olhou tímido pra Rosa e lhe pediu, derretido, um geladinho...