quarta-feira, 18 de julho de 2012

Alí estava Luíza, sentada no canto da escada, a revirar a bolsa em busca do esqueiro que acenderia o seu segundo cigarro consecutivo daquela noite. Engraçado porque Luíza revirava a bolsa como quem revira a sí mesmo, em busca de fogo...num ato de retirar todos os objetos/obstáculos do caminho em busca do que se deseja, quase instintivamente...Como se, ao achar o esqueiro, todo o salão escuro pudesse se iluminar com a chama que apareceria instintivamente quando Luíza apertasse o gatilho...Mas veja, no que estou pensando ao ver Luíza no simples ato de procurar em uma grande bolsa um esqueiro...basta de metáforas! estas já me apontaram tudo que é possível saber sobre mim através delas ou, pelo menos, o suficiente...que o ato real seja o de encontrar-me novamente com ou sem esqueiro mas, certamente, com fogo...

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Passos e clarinete

Virginia havia chegado no limite do tempo...correu para o fundo e sentou-se e foi só então que parou para respirar acomodando-se na cadeira acolchoada que lhe permitia reclinar o corpo. O teatro tava lindo, cheio de gente e a luz foi-se apagando...Daí em diante, Virginia só tem certeza de uma coisa, tinha se desconectado inteiramente do que ocorria no espaço externo aquele grande salão. Durante aquelas duas horas, nada foi mais importante do que sentir seu corpo ser preenchido de música. De olhos fechados, o som do clarinete invadia-lhe com delicadeza, rasgando as barreiras da racionalização e dando vivacidade aos floreamentos do sentir que agraciava aquele tempo presente...E foi então, que tomada de emoção, transpondo-se ao pensamento, Virginia sentiu a vida dançando...enfim...

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Eram mais ou menos seis e meia da manhã quando um sonzinho familiar e um pouco desafinado irrompeu os ouvidos de Antonieta...ainda em vigília, abriu um tanto dos olhos, em um ato quase instintivo...foi quando viu sua mãe, a entrar em seu quarto cantarolando, segurando nas mãos um pequeno bolo iluminado por uma vela...Antonieta lembrou-se do dia do seu aniversário e, enquanto ajustava-se na cama para receber os votos, foi invadida por uma alegria de tantas memórias e afetos de sua trajetória e riu quando percebeu-se apagando a pequenina vela verde que iluminava o quarto...Quando já preparava-se para comer o bolo a mãe segurou sua mão e disse "espere, tem que fazer o pedido" lembrando que Antonieta deveria cortar de baixo para cima...Antonieta pegou na faca, um tanto desconcertada, tentando elaborar seus pensamentos que ainda permaneciam adormecidos...que sonho valeria de ser feito no dia do seu aniversário? que pedido a impulsionaria da cama despertando-a para o mundo?...quase emocionada, pôs firmemente as mãos na faca, inclinando-a para dentro da camada fofa e clara do bolo...e no ritmo do atravessamento desejou...depois, comeu o bolo e seu corpo encheu-se de sonhos iluminados por uma pequena vela verde de afetos...

quarta-feira, 4 de julho de 2012


Porque as vezes a especialidade da vida encontra-se na especificidade das coisas...e vai sendo dessas brechas/rompantes de alegrias, de liberdades,  que vamos construindo os nossos espaços de expressão...ora insuportáveis ora tranqüilizantes...


...e vai se tecendo a vida...