quarta-feira, 27 de junho de 2012


Estava aos pés do mar, deitada, sentada, como que encostada no braço do mar que acarinhava-lhe o corpo, permitindo com suas águas, um vai e vem das lembranças...Sentia as ondas calmas, serenas, sem pestanejar...ora gelado, ora  quentinho...o mar a noite e suas surpresas, as suas renovações...estava no meio do mar, o seu amor...Juvelino, o pescador mais conhecido daquela região...e por mais que tentasse, e respeitasse a força das águas, Jacimara não entendia  como o homem havia perdido a mão do mar...como que era possível que depois de tanto tempo, de tanta vivência, de tanta história contada naquelas ondas, as águas tivessem levado o seu amor...Alí, na calada da noite, sem aquele bando de gente que passava o dia a lhe fazer visitas e a exigir-lhe uma força de vida, Jacimara salgou-se toda de memória de Juvelino, sendo que as vezes pensava que avistava seu barco, seu homem, vindo pega-la na areia ...Na beira do mar, entre soluços, Jacimara repetiu em suplicio, como se fosse possível a Juvelino escurtar-lhe, a promessa que lhe havia feito na primeira noite do casal e que  jamais tinha deixado de cumprir..lembrando-se claramente do, entre afagos, ter ouvido da boca do homem, que ela deixasse de agonia, que ele não a faria esperar, depois que a noite caísse, por ele na beira do mar...e lá estava Jacimara, depois de três dias, olhando mareadamente o sol anunciando a ausência do seu amor...

quarta-feira, 13 de junho de 2012


Antonia acordou no sábado pela manhã, com um filete solar que invadia o quarto atrapalhando o sono. Com os olhos ainda entreabertos, Antonia pode avistar, por entre as grades da janela, um azul límpido que se encompridava para além do recorte. Antonia despertou! tomou café, tirou do fundo da gaveta um biquíni e acelerou-se para a praia. Sentada na cadeira, de frente para o mar, Antonia avistou aproximando-se dela uma mulher alta, de cabelos negros e longos, coberta por um cumprido vestido de babados. A cigana parou em sua frente e solicitou a Antonia que estendesse as mãos para que ela pudesse ler. Carinhosamente, Antonia cedeu as mãos a cigana que falou durante muito tempo, tricotando os rabiscos entrecruzados que iam aparecendo nas mãos de Antonia...Quando foi embora,  ainda antes de perde-la de vista, Antonia deitou-se na areia, com os pés a beira do mar, sentindo o sol aquecer-lhe a pele...Ficou pensando em todo aquele falatório da cigana, admirou as próprias mãos por terem tantas possibilidades...Sentiu que poderia experimentar cada uma delas... em suas mãos, o mundo rasgando-se todos os dias e oferecendo-se a ser vivido...Antonia sorriu, como uma criança que descobre onde chegam as formigas depois de tanta caminhada...Em seguida, melou-se na areia e correu pro mar, como quem começa, novamente, a  descobrir o prazer de redesenhar linhas...

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Embaixo da grossa camada de gelo, corre um lago de águas fortes e correntes, Habita nele, todo tipo de vida marinha que suporta a frieza do inverno. Embaixo da grossa camada de gelo, pode-se ver algas verdinhas, peixes coloridos e todo tipo de imaginação. Dentro de toda gente, depois que se atravessa a mais grossa camada de gelo, há um lago de águas correntes e fluidas que guarda em sí, enfim...A vida!


sexta-feira, 1 de junho de 2012

Mareia ô...

As coisas andavam sem encantos para Doralice! Nem a manhã abrindo-se lentamente até rasgar o céu, nem a tarde beirando a noite, nem o mar que ia e vinha, ora sem pressa ora com fúria. Doralice andava assim, sem graça, sem encanto, como quem acordado dorme, como meio que andando de anestesia...

Quando abria os olhos, anestesiava-se e andava na vida, assim meio de tangente, meio que pulando as poças d'agua, se chuva tivesse havido no dia anterior...

Até que um dia, tomada por uma sensação estranha, Doralice não se recorda bem como foi parar de frente para o mar....Era uma manhã dessas de segunda-feira, a praia todinha para ela.

A brisa leve não tangeu seu corpo, não fez curva...rasgou as entranhas de suas ventas até atingir o coração...Dos olhos sairam gotas de mar salgadinhas, escorrendo pela areia de sua face...Sentada, Doralice cavou a terra até sentir os dedos molhados...Lembrou-se das poças d'agua que havia pulado e encantou-se tanto que sentiu no corpo leve a força das águas puxando-a para dentro de sí...